sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O nada. O futuro. E Tetris.

Interessante mesmo é o nada. O tempo parado passando na nossa cara, enquanto nada acontece com a gente, mil coisas se desdobram simultaneamente ao redor.
O nada é egoísta, é pessoal. É primo-irmão do tédio, que assim como o nada, é a visão egocêntrica preguiçosa de cada um para o atual instante.

Deitados, batendo os dedos das mãos e balançando os pés ritmadamente, cantarolando uma musiquinha desprentensiosa e repetitiva, enquanto analisamos cada centímetro do teto, percebendo cada poeira que sobrevoa nossas cabeças, empurradas pelo chacoalhar do ventilador desesperado a trabalhar incessantemente em uma sexta-feira quente como hoje no Rio de Janeiro, onde os termômetros marcam singelos 40ºC, com sensação térmica chegando aos 50ºC, nos julgamos desocupados; o tempo parece congelar enquanto desejamos que ele corra - ou voe, melhor dizendo - e surja repentinamente uma ocupação para nos tirar daquele tédio. E o tédio traduz, nada mais, nada menos, que o nada pra fazer! Ou não fazer, porque é nada.

Alguém já jogou Tetris? Todo mundo! Quem teve infância pelo menos, já jogou. Pra quem não conhece - porque não é desse planeta - jogo é bem simples: é um jogo eletrônico onde há um tabuleiro, e as peças caem uma a uma. Você deve alocá-las em um lugar onde elas completem os espaços vazios. A cada linha completa, sem nenhum lugarzinho vazio, a linha some, esvaziando o tabuleiro para que novas peças entrem no jogo.
Fácil, né? Então vamos fazer algumas comparações com esse joguinho...

Na geração que hoje move a economia e o desenvolvimento do mundo, a maior reclamação é, sem dúvidas, a falta de tempo. Trabalho árduo diário e excessivo ocupam a mente, tomando o espaço de outras atividades da vida de uma pessoa normal, como a alimentação balanceada, a prática de exercícios físicos, lazer, programação cultural, amigos, familia, namorado, limpeza da casa, estudos... Aí entra o Tetris!
A gente já começa a vida com essas peças encavalados no tabuleiro. O jogo não vem zerado! Temos que saber alocar as peças obrigatórias que estão lá, antes da gente começar. Quem olha, pensa que é pouco, mas só quem vive correndo entre um e outro sabe o que é esse tipo de vida. E ainda entra o momento de descanso, né? Afinal, quem somos nós para funcionar 25h por dia, 8 dias na semana, 32 dias no mês, 13 meses por ano sem parar, se até o cara que é Deus deu uma "pausa-lanche" no sétimo dia? Que que há? Não somos de aço!

Em contra partida, a geração que ainda está por vir parar substituir os sem-tempo, são adeptos do nada pra fazer mesmo que tudo esteja por fazer! Aqueles que aparentemente o Tetris está com defeito e não precisa se desdobrar para manter-se no jogo. Acostumados a achar a resposta de todas as conspirações do universo pelo Google, a terem um cardápio gourmet preparado pelo Chef Microondas a 10 minutos de distância do prato a qualquer hora, os que se preocupam demasiadamente com o presente, sem se dar conta de que o futuro está em suas mãos. Eles tem todo tempo do mundo para fazer tudo, mas não querem fazer nada além do habitual nada. E se julgam sempre sem tempo para qualquer coisa.
Geração com potencial, principalmente em tecnologia. Jovens com capacidade intelectual para serem bem sucedidos e conhecidos por seus feitos e descobertas, têm todas as ferramentas necessárias a disposição para utilizar livremente, e podem chegar realmente muito longe! Quantos são os autodidatas que sabem tanto, e alguns até despontam e já estão dando seus passos para o sucesso desde muito novos, enquanto outros nem sabem o que quer dizer autodidata...
Com ressalva dos jovens que se empenham em um futuro melhor, que são, infelizmente, uma pequena parte dos jovens do nosso país.
Segundo uma pesquisa feita em junho/2013 pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) dentre os 35 países que foram pesquisados, o Brasil tem o nível mais baixo da população que completa o ensino superior, e o terceiro pior índice de jovens que completam o ensino médio. Isso chega a ser deprimente! Onde estará o nosso país daqui a 30 anos? Quando o tédio dará lugar a um futuro melhor? Quando essa geração perceberá que tudo depende deles? Da gente, pois também sou parte dela! Game Over!!!!

Sabendo do futuro que nos espera, os sem-tempo se espremem ainda mais para produzir um pouco além do que podem, gastando mais ainda o tempo que não têm. Fazem malabarismo com seus horários, afazeres e deveres, e transformam seu jogo de Tetris em um sonho, onde todas as peças devem se encaixar perfeitamente, para que caibam em seus devidos lugares e eliminem aquilo que já foi feito e resolvido.
Mas quem dera que a vida fosse bem assim; onde as coisas vão encontrando seus lugares de encaixe com facilidade e sumindo automaticamente depois de solucionadas. Nem tudo se completa nesse jogo, as peças se embaralham, o tempo que já não existe fica mais curto e a cabeça mais cheia.

O egoísmo do nada mora bem aí.

Tantas pessoa se encontram sobrecarregadas de afazeres enquanto cruzamos os braços para a assistir, sem mover um dedo para ajudar. Quando aparentemente não se há coisa alguma para resolver é, na realidade, a falta de vontade de olhar pro lado e perceber a infinidade de coisas que teríamos que fazer, mas não queremos.
A preguiça é a mãe do nada, que é primo-irmão do tédio, que por sua vez, é filho da má vontade.
E ainda tem gente que tem o desplante de reclamar das pessoas que não têm tempo para nada, achando inacreditável a possibilidade de uma pessoa não ter tempo ocioso suficiente para dar as mãos ao tédio e ao nada. Pois é...

Feliz é que consegue jogar o Tetris da vida sem perder a maestria. Não é simples, e raramente sabe-se jogar sozinho.

Quando esse futuro próximo chegar, provavelmente vai rolar um baita arrependimento para quem não atentou para o equilíbrio do jogo de viver bem antes.
Muitos que estão vivendo segundo a filosofia de Renato Russo, pensando: "nem foi tempo perdido, somos tão jovens...", vão se deparar com a frase de Lulu Santos: "não há tempo que volte, amor". 
E realmente, não há.

Vamos atentar para o tudo. Deixe o nada para depois.